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Foto do escritorBruna Salatta

Bon-vivant ou Minha arma são as palavras | Diário de Bordo. Vale do Capão/BA - 17/03 - 15:55


eu quero viver. e usar das coisas que vivo para viver ainda mais e melhor. sabe, eu não sei direito o que fazer quando um amor entra pela minha porta, puxa uma cadeira de plástico do meu lado, bola um tabaco, levanta e vai plantar algumas sementes no meu quintal. Eu sabia que ele viria em algum momento mas antes dele chegar eu fiquei me perguntando, porque estou fazendo isso se ontem mesmo me deitei no banco em baixo da árvore e os diferentes tons das folhas que a luz do sol produzia me ascendia até o peito e eu podia sentir tranquila o diálogo que a hipoderme criava entre o que me atingia por dentro e por fora. Quase a sensação de beber o primeiro copo de água do dia. Aquele insight que fala "nossa, isso é realmente bom, preciso aderir ao costume de beber mais água todos os dias". E agora você ali no outro cômodo.


Eu me aconselhei a não buscar formas. Por isso nada de definições. Para as palavras que eu buscava organizar visualmente esse porque eu criei um altar na sala. com pedras que pintei, um livro, folhas com anotações. Ordeno agora um lugar sagrado, com um varal de lembretes cruzando todo o ambiente e que em todas as tarde de sol fazem entrar pela janela aberta pipas e com elas a lembrança da despreocupação de fazer uma estrutura de papel e madeira fina voar no céu. Nesse local, invoco e exorcizo indefinições que bagunçam a casa. Mesmo que eu precise colocar todo o alfabeto estampado na parede para incentivar a imaginação a pensar em todas as combinações possíveis em descrever o que é aquele pequeno espírito malicioso chegando e querendo me invadir. Eu crio textos grandes para eles porque com esses intrusos não quero ser breve. Quero que a gente se jogue de precipícios abraçados e aprenda juntos a fazer do aperto um laço amigável. Tirando do salto a paralisia. Às vezes, isso é bom porque me leva a elaborar tudo com requinte e beleza, tão visceral e belo quanto um pub do subúrbio de uma inglaterra de 1919, comandado por mafiosos heróis de guerra em ascensão. E em outras é sabotador, porque me leva a ficar em pé na beira do rio por tempo demais criando histórias que nunca vou me lembrar só para adiar uma escolha por medo. De toda forma, é aqui agora que eles ficam. Fiz isso para me sentar na mesa de plástico e te dar um beijo no ar com olhos de carinho quando me cruzar com você no caminho de volta da pia onde fui buscar mais café. Depois eu volto para o meu altar e componho algo com isso tudo. Por hora, eu quero viver. E usar das coisas que vivo para viver ainda mais e melhor.

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